segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Um Contador de Histórias

 Eu fazia oito anos. Ninguém é tão adulto quanto alguém com oito anos de idade. As calças curtas, absurdas de inconsistência e incoerentes com a minha pose, postura e alma adulta dos meus oito anos. Papai Noel é óbvio que não existia! Eu não era nenhum bobo. Eu tinha oito anos. Até porque ninguém sabia que eu morria de medo dos meus pais morrerem, de trovão e do Junior, que era um cara que batia em todo mundo lá na minha turma. Escondidos no meu coração de menino, os medos saltavam como bolas.

Mas por fora, por fora eu era um homem. E se meus dentes de leite já haviam caído e se o definitivo não havia nascido, eu não ria mais e pronto! Eu já tinha oito anos. É por isso que eu achei bobeira aquele filme que escolheram para a minha festa.

Aquele vagabundo de bigodinho, bengala, era bobo. Se sujava na lama, tropeçava, tacava torta na cara de todo mundo e quando sorria ... Ah, quando ele sorria me dava uma vontade de chorar que eu odiava. Logo eu, um homem feito de oito anos, chorando! Que raiva! Eu olhava aquele filme chateado, deprimido. Eu não vou chorar. Na minha frente meu avô sério, careca, seco, e minha avó triste. Sempre concentrados. Meus avós pareciam mordomos de filmes – empertigados, sem emoção nunca. Nunca, não. Olhando aquele vagabundo de bigodinho, chapéu coco e bengala, se dobravam de rir. Riam alto, de dar vexame. E eu vi, pela primeira vez, eles se darem as mãos. E aí eu chorei. Logo eu, um homem! Que ódio daquele vagabundo do filme! Ele me mostrava, sem pena, que a ternura ia me acompanhar pra sempre nessa miserável raça de adultos na qual eu julgava ter ingressado, nos meus oito anos. As lágrimas escorreram, aí eu suguei com minha boca sem dentes e ninguém viu. Graças a Deus, ninguém me viu chorar! Porque todos, mas todos, morriam de rir, enquanto suas almas davam as mãos a qualquer avó e a qualquer amor que ainda existisse.

Hoje meu filho anda por aí comigo e pensa que eu sou artista. Ah filho! Como aquele do bigodinho e da bengala, eu não sou não. Mas eu te juro: se o teu filho puder vê-lo nos vídeos do futuro e olhar pra frente segurando as lágrimas, vai me ver procurando a mão da avó dele. E ainda, morrendo de rir.