quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Feijãozinho Pelado! Quando a estoria virou História!


No intuito de iniciar com ânimo e alegria mais um ano letivo. Reuni  algumas histórias cômicas e às vezes até  trágicas. Como professor, passei por verdadeiras experiências socráticas das quais me faz recordar uma frase de Sêneca “Ensinando, aprende-se.”. Mas, de todas as experiências, tem uma que até os dias de hoje coloca-me a refletir e dar boas risadas.

Tudo aconteceu em uma sala de II Jardim (Educação Infantil). Era quarta feira, resolvi visitar aquela turminha que mal sabia  escrever o nome. Todavia, não escondiam a sua inteligência e desejo de aprender. Naquela manhã, iria contar uma história como de costume. Não era professor daquela turma, porém, sempre passava por ali com uma fábula, uma novela filosófica e um conto religioso.

A história escolhida para aquele dia chamava-se “feijãozinho Pelado” uma adaptação pessoal de outra história “O Feijão teimoso”. Dá um toque pessoal nas histórias já era uma prática normal: “O Lobo mal que queria roubar as esfihas do ‘Habibs’ feitas pelo vovô levadas pela Chapeuzinho;  O Três porquinhos que se escreviam no projeto ‘Minha casa minha vida’, O Pato Donald que se tornou garoto propaganda do ‘Anapyon’ e o famoso Spctremam que passou a dar consultoria aos heróis japoneses da HBO.”  Posso lhes dizer que em muitos casos passei o maior sufoco para conseguir um “final Feliz” para aquelas histórias. Mas, nada foi mais cômico e trágico do que naquela manhã.

A história do “Feijão teimoso” começa assim:
Certa vez, um velhinho de nome Expedito resolveu  fazer uma deliciosa feijoada. Era sábado, dia de feira. Ao chegar à feira comprou um quilo de feijão preto e os demais ingredientes daquele que seria o manjar do final de semana. A história normal segue com os um feijãozinho revolucionário que não deseja ir para panela e pula no meio do caminho. Esconde-se e torna-se um lindo pé de feijão. Pronto este o fim dá história, daí se coloca uma moral na história e todo mundo fica feliz.

Entretanto, estes finais terminam como  um ar de cansado. Ou seja, vou terminar aqui pronto. Em virtude do costume, desejei fazer a minhas adaptações. Então, já que a história era de feijão, por que não relacionar com a famosa história do “João e o pé de feijão”. Após contar a primeira parte “O senhor Expedito e a compra dos feijões na feira”  iniciei as minhas adaptações.

O seu expedito voltava para casa com a lata de feijão todo feliz. Até que aconteceu uma coisa que vocês não vão acreditar! Naquela lata de feijão havia um feijãozinho que era primo dos feijões vendido para o João, aquela que derrubou o gigante. E como ele sabia que  era mágico, logo disse aos outros que estavam com ele.
— Eu não vou virar feijoada de maneira alguma. O meu destino é crescer e alcançar os céus. Não consigo ver-me misturado em uma panela cheia de gordura. Fico todo escorregadio só de pensar.
— Mas, não tem jeito, meu amigo este será o nosso fim. E mesmo que pulasse dessa lata, você não teria muita sorte como àquela “batatinha” que fugiu e criaram um versinho para ela “batatinha quando nasce esparrama pelo chão...” Pois, com o progresso as ruas estão todas asfaltadas e o máximo que lhe aconteceria seria um moto-boy esmagar-te no asfalto.
Com as ponderações dos outros feijões o nosso amigo acalmo-se. Mas, não desistiu do seu plano. Na primeira oportunidade sairia daquela enrascada.

Até aquele momento a história estava sobre o meu controle. Todavia, tem sempre aquele momento em que as crianças encontram-se em uma agitação e o desejo de participar da história torna-se incontrolável. Quando conhecem a história tentam contar junto contigo e quando não, passam a fazer perguntas.
Qual o nome deste feijão? Diz um curioso meio CDF.
Ele tinha namorada? Diz uma apaixonada.
Aminha avó sabe  fazer feijoada. Diz um gulosinho.
Eu não gosto de feijão! Manifesta algum deveras mimado.

Cada uma das intervenções soa como verdadeiras pérolas a serem aproveitadas a qualquer momento. Contudo, o perigo mora nestes acréscimos. Quanto mais informações mais complexas tornam-se as histórias.
Embora, não tenha sido este o problema daquele dia. No ápice da história algo diferente aconteceria..

Então o feijão, naquele momento denominado Joca, organizava uma revolução em toda lata.
— Vai ser assim. Quando o seu Expedito estiver a nos lavar para colocar-nos na panela, iremos correr para o mesmo lado. Pois, com o peso apenas de um lado a vasilha vai cair dentro da pia e vamos rapidamente escorrendo pela encanação rumo à liberdade.
— Isso aí! Nós vamos mostrar o que somos capazes de fazer! Gritavam todos os feijões dentro da lata.

A História já tinha dado liga e os alunos já interagiam com a trama. Resolvi naquele momento inovar mais uma vez. Os alunos representariam os feijões no momento em que se  preparavam para saltar no ralo da pia. Mas, algo terrível aconteceu naquele momento. Incorporados no papel de feijões, um grupo de aproximadamente 15 aluninhos correram para um lado sala e juntos ao professor gritavam.

“Vamos lá! Preparem-se para pular!!!

Estávamos todos ali envoltos no clima da história,  que aos poucos caminhava para o seu final.

Quando de repente a professora regente chega à porta da sala e fica a observar aquela balbúrdia e pensativa tentava imaginar. Onde tudo aquilo iria acabar? Confesso, poucas vezes fiquei apreensivo com uma situação em sala de aula. Mas naquele momento era protagonista do maior mico imaginado.  O reflexivo professor filosofia havia se tornado um caricato contador de história que fazia vozes, sons,  caretas e tudo o que mais era possível em uma história infantil.

Entretanto, junto ao mico sucedeu um súbito branco “estoristico”, ou seja, não sabia em que parte da história me encontrava  e muito menos o que já havia inventado até aquele momento. Após  um leva pausa  saudei a professora
Oi, tia! Acompanhado de um sorriso amarelo, um frio na barriga e uma vontade de sumir.
Em qual parte da historia estava, nunca mais vou lembrar-me. Contudo,  arrumei rapidamente uma solução para aquele problema.

Com um rápido movimento o senhor Expedito conseguiu impedir que os  feijões fugissem assim a vasilha de voltou à posição original.
Com esse adendo  consegui voltar os alunos aos seus lugares. Faltava agora conseguir terminar aquela história. Que aos poucos virava uma saga pessoal.

Junto com uma garotinha que retornava do bebedouro, chegou uma idéia que me salvou a pele e impediu que os alunos ficassem sem o final da história.

Expedito tinha uma netinha que lhe veio visitar naquele sábado. Então quando ela viu que o almoço seria feijoada  começou a gritar toda animada.
—Eu adoro feijoada! E correu para próximo da vasilha onde estavam os feijões. Enquanto contemplava os feijões, o seu avô lhe perguntou.
—E você gosta de qual tipo de feijão? Preto, carioca ou fradinho?
Respondeu  a menina toda pensativa
—Eu gosto de todo tipo de feijão, menos os peladinhos. Aqueles que ficam sem casquinha...
Neste exato momento,  o nosso feijãozinho tratou de retirar sua casquinha e ficou peladinho. Rapidamente rolou bem para cima da vasilha. De modo que fosse avistado pela menina. Que já se aproximava para olhar dentro da vasilha. Joca estava sem roupas e provocou o maior alvoroço. Todos gritavam.
—Retirem este feijão tarado daqui! Que falta de vergonha!
A menina sem notar aquela confusão, estendeu sua a mão retirando Joca do meio dos outros que respiraram aliviados. "Ufá"!
—Vózinho! Eu  não gosto destes peladinhos assim. Joca estava entre os dedos da menina que o ameaçava jogar ele fora.
 O senhor Expedido consentindo com o pedido de sua neta acenou a cabeça, mas, recomendou que o coloca-se no quintal. Para que lá brotasse um lindo Pé de Feijão.
E assim fez a menina lançando sobre Joca um pouco de terra e após tamanho esforço ele tornou-se um lindo pé de feijão e deu continuidade a descendência dos feijões mágicos.

Já estava me esquecendo daquela parte da moral da história. Ao qual inventei naquele momento e sai correndo.

Quem já viu aquele pé de feijão que nasce de modo misterioso perto da pia da nossa casa ou lá no quintal? Pois é, eles são todos parentes do Joca. Que por sua vez, são parentes dos Feijões Mágicos da História.Por isso eles nascem com tanta facilidade em todos os lugares.

Ao terminar a história a professora não sabia se sorria para mim ou de mim. Quanto àquela turminha? De vez enquanto, encontro alguns jovens pelos corredores que já se preparam para o vestibular e saúdam-me de modo não muito convencional para um professor de filosofia.
Ei, Tio! Aparece lá na sala pra contar aquela história do  “Feijão Pelado”! Mas, Tio!  só vale se tiver emoção!...

Ennis Araujo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A lixeira, o banco e o pardal! Uma Fábula Moderna.!

Capitulo I

Encontros e Desencontros
Existem histórias de pessoas, cidades, ruas e  praças famosas. Mas acredito que ainda ninguém contou a história de um Banco de praça ranzinza, uma Lixeira Pop-Star e   de um Pardal metido a besta.

Mas acho que antes de contar está história é necessário conhecer o lugar onde tudo aconteceu, ou melhor, que deveria acontecer. Não, nada disso! O lugar onde tudo acontece de verdade “O Coração”!

Era uma vez uma praça, igual a todas as outras: retangular, bancos, parquinho, banca de revista, pipoqueiro  e muitas crianças. Chamava-se “Praça da Vida” apesar de não haver nada de tão especial, ocorreu  que um dia despencou sobre a cidade um grande temporal. Um verdadeiro dilúvio: derrubou arvores, destruiu calçadas, arrastou a banca de revista.
A Praça da Vida ficou completamente destruída. As pessoas caminhavam pelas ruas desesperadas.
Até que de repente um casal de namorados encontrou em meio aquela tragédia algo que se tornaria um sinal de esperança. Escondido entre os galhos das árvores arrancados pela força do vento e arrastados pela fúria das águas, um pequeno ninho de pardal, ao qual abrigava um filhote que delicadamente dormia protegido como que em uma espécie de milagre.
A mãe daquele jovem pássaro parecia ter previsto o que aconteceria. A vigorosa mangueira tombou-se a força dos ventos, porém aquele ninho resistiu intacto. E o seu morador, aguardava faminto pelo retorno de sua mãe.
Em meio à escuridão e a dificuldade para alcançar o ninho entre às folhas os dois jovens pediram ajuda das pessoas que por ali passavam. Algumas aflitas demais para ajudar, mas mediante a bela visão do pequeno pardal em seu ninho.
O Medo, o frio, a fome  e a escuridão da noite não impediram que dezenas de pessoas se movessem na corajosa missão de retirar aquela frágil ave do lugar ao qual até o momento representava a segurança máxima. Quando conseguiram ouve gritos de eufóricos de felicidade.
Aquele gesto provocou uma reação inesperada, a euforia vivida no resgate do jovem pardal levou com que todos se desdobrassem na ajuda e amparo dos que estavam padecer em outros lugares mediante a chuva.

Toda aquela cena foi fotografada por repórteres que estavam no local. E no outro dia ganhou as paginas dos jornais. Porém, restou uma duvida .
O que ocorreu com aquele pardal?
Após o resgate, o casal de namorados levou o pequeno pássaro para um ninho que pertecenu a outro passáro e acompanharam todo o desenvolver da pequena ave. Até  que um dia o mesmo vôo para junto dos seus.

Aquela história ficou gravada em uma placa de homenagem na Praça da vida, que devido à tragédia passou por uma grande reforma. Por dias a reconstrução seguiu. Um tronco de arvore servia como banco para descanso dos operários que trabalharam interrupetamente. Parte do lixo foi enterrado no centro da praça, como um gesto simbólico. A vida  brotaria novamente. Uma cena curiosa era notada por todos que  ali trabalharam.Um  passáro desolado contemplava tudo que acontecia com um olhar tristonho.

A reforma da “Praça da Vida” foi concluída. E em homenagem aos namorados a  praça ganhou um formato de coração. Por causa disto, outras coisas acabaram por acontecer. Inclusive o fato de se tornar um rua sem saída que levava com que todos circulassem por todo o “Coração”.

—Meu amigo pode me informar onde fica a “Praça da Vida? Perguntava o taxista.
—Lá no Coração. Respondia o jovem.
—Onde fica a escola “Primeiros Passos”? Queria saber o homem que dirigia o ônibus escolar.
—Olha você segue está rua então o senhor vai ver um coração. Fica ali. Respondia ao guarda.
Assim a Praça da Vida passou a ser conhecida apenas por “Coração”.

Como qualquer outra praça “Coração” também tinha seus moradores. Que neste caso não eram híppies, mendigos, ambulantes, cachorros sarnentos, corujas buraqueiras e muito menos o “bicho-papão”.

Stress e Clean eram considerados os primeiro moradores daquele lugar. Gabavam-se de saber o nome da  primeira criança a cair da velha mangueira e a menina que ganhou o primeiro botão de rosa.

Stress era um banco de praça, feito em ferro e  madeira. Possuía um temperamento explosivo. Dizia de si mesmo.
—Antes de pensarem “O Coração” eu já estava aqui, nos primeiros anos na forma tosca de um tronco de árvore. Já naquela epoca eu era bastante útil, pois, servia como assento aos cansados e famintos trabalhadores. Mas, hoje sou uma obra prima. Um planejado banco de praça.
E após tilintar os seus parafusos afirmava.
—Sou praticamente uma relíquia, na cidade não existe um banco de praça mais velho do que eu. Sou exclusivo, por isso exijo cuidado comigo, não gosto que pisem em meu assento. Que bêbados venha dormir sobre mim e muito menos que os alunos escrevam sobre o meu encosto.

O segundo morador, ou melhor, moradora, chamava-se Clean uma amável e charmosa Lixeira que ostentava o curioso formato de coração.
— Eu brotei do chão como as árvores. Na minha infância era apenas um buraquinho e recolhi em meu interior parte da triste sujeira e destuição deixada pela chuva. Em minha eficiência fui promovida a lixeira modelo. Devido a tão inusitado designer a lixeira tornou-se um atração especial.
—Nossa que linda! Uma lixeira em forma de coração! Amei este detalhe rosa é tão romântico! Super fashion! Os comentários eram os mais diversos.
 As pessoas pousavam por horas ao lado daquela que era a sensação da praça. Os flashes eram constantes.  Principalmente nos finais de semana.

Clean por sinal não esconde a sua vaidade.
—Sou a pessoa mais conhecida desta cidade. Já tirei fotos com japoneses, alemães, russos, americanos, italianos, brasileiros. Tenho foto com a primeira dama. A filha daquele cantor sertanejo famoso. Sem falar que a praça em minha homenagem ganhou este formato.

Apesar de não terem  residência permanente a cada ano Coração recebia diversas espécies de aves que revezavam a sua estadia na “Praça da Vida”. Pombos, João de barro, pica-pau, sábias, canários, andorinhas e os inúmeros pardais. Estes formavam curiosas imagens ao se lançarem em revoadas ao sobrevoarem a praça. Mas desta vez as coisas foram um pouco diferente, O grupo era guiado por um pardal muito diferente.
—  Acho que você deve assumir a frente do grupo. Disse o pardal que estava a organizar o grupo de migração. O seu nome era Cheff, usava poucas palavras conhecido por seu modo prático. Era responsabel por preparar os mais jovens no exercicio de conduzir os bandos a migração.
—Mas, eu já disse que nunca fiz isso. Disse o pardal em negativa a ordem de  Cheff. Este pardal chamava-se Lipe. Havia entrado no bando a pouco tempo. Mas logo tornou-se conhecido pelo seu tamanho e sua cor acinzentada.
—Estou a lhe esperar. Anda logo rapaz! Cheff não se intimidou com o corpulento pardal prateado.
—Isso é loucura! Gritou Lipe ao perceber que aquele pássaro não o deixaria em paz. Enquanto os demais lhe olhavam com ar de reprovação.  Enraivecido tomou do bando que seguia na forma de um grande V, o modo seguro de conduziar a migração dos passaros.
Lipe nunca havia guiado um grupo antes, mas parecia aprender rápido tudo que lhe ensinava.
—Isso mesmo, deixe o grupo sempre junto! Observe o ritmo dos outros! Isso mesmo rapaz você parece que nasceu para isso.
 Em poucos minutos Cheff estava a elogiar, o estranho e folgado pardal prateado.
—Assim que avistar um lugar seguro prepare-se para o pousar. Avisou Cheff à Lipe que conduzia o grupo.
—Acho que pode ser naquelas arvores. Disse Lipe ao avistar algumas frondosas mangueiras.
Mas antes, que se concluísse a manobra. Cheff começou a  gritar desesperado.
—Para cima!  Aquile é o reflexo da vidraça! Você que matar a todos!
Lipe estava tão empolgado que não deu ouvido ao experiente pardal, acostumado as surpresas e desáfio do ar.
— Você está maluco Olha lá as arvores. Os predios estão do outro lado.  Insistia Lipe.
—Sim as arvores estão lá, seu pássaro maluco. Mas, do outro lado aquilo é apenas reflexo. Para chegar à praça será necessário passar por entre eles. Alguns pardais não conseguirão fazer tão arriscada manobra.
Cheff tentou por diversas vezes alterar a rota do grupo. Mas não havia outro modo. Lipe conduzia o grupo, convencido que estava a fazer a coisa certa.
—Venham vocês! Gritou Cheff a dois pardais de cor escura
—Derrubem este pardal kamikaze! Antes que ele mate a todos nós.
—O que isso meu Deus?! Lipe foi atropelado pelos dois pardais que se lançaram sobre ele.
—Vocês me pagam! Lipe avançou como um louco,  para cima dos pardais. Em meio a sopapos e bicadas o pardal prateado foi imobilizado.
—Quando eu autorizar vocês podem soltar este maluco! Cheff em uma ação muito rápida tomou a condução do bando. Enquanto reduzia a velocidade conseguiu dividir o grupo de pardais o que e permitiu que não ocorrese uma  tragédia.
Porém Lipe não teve a mesma sorte.
—Ploft! Tum, Tum! Ai! Ai, Uff!  Uma seqüência de barulhos anunciava que Lipe havia se chocado com as vidraças. Quando foi libertado pelos pardais já era tade demais.
—Será que já cheguei ao céu dos pardais? Perguntava-se
Queixava-se o pardal sem esperança de estar vivo.
— Se cheguei. Sempre imaginei um lugar fofinho com músicas por todos os lados.
Mas aquela realidade não lhe parecia muito com o céu.
—Acho eu não fui muito caridoso para merecer o céu dos pardais. Mas isso aqui está frio demais para ser onde não gostaria de estar.
Aos poucos percebeu que estava em uma pequena sacada sendo acolhido de modo inusitado.
—Ah meus Deus! Nada é tão ruim que não possa piorar. Socorro! O pássaro saiu cambaleante a fugir de um gato amarelo com cara de “obrigado Papai do céu pelo apetitoso almoço” . Só restava o passaro sair dali imediatamente.
Enquanto ganhava altura não percebeu que a varanda era coberta e deu uma ultima cabeça no teto.
—Ai! De novo! Já sei quando casar sara!   Aos poucos notou que não estava naquele momento dividido em mil pedaços na boca daquele gato asqueroso.

Deste modo a vida acontecia em sua mais bela dimensão. A capacidade de se renovar. E para todos os moradores  esta renovação se realizou o dia em que  “Praça da Vida” deu os seus “Primeiros Passos”  em direção ao “Coração”.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Fotógrafos digitais, um mal necessário?! Saudosos Retratistas...


Declaro guerras aos "fotógrafos" digitais de plantão em casamentos, batizados, colação de grau e outros eventos públicos de caráter familiar. Nos últimos anos decidi não fotografar algumas coisas que julgava importante. Não por deixar de desejar aquela cena eternizada: o sorriso  da debutante, o rosto do criança batizada, o beijo dos noivos, a alegria da conquista da tão longínqua graduação. O motivo deste desapontamento em fotografar nasce em vitude de um objeto fantástico e prático a “máquina digital”, pois a mesma outorgou o direito de cada pessoa sentir-se e  porta-se como fotógrafo, e muito mal educado por sinal. Não sei como, mas surgem pessoas de todos os lugares com máquinas e celulares de todas as formas e modelos a fotografar não sei quem, muito menos o que? Sei que saracoteiam pelos cantos das igrejas, salões e auditórios na tentativa de ver alguma coisa, ou melhor, fotografarem alguma coisa. Acho que se soubesse que a vinte anos atrás uma boa fotografia de álbum de familiar levava-se quase um dia para ser realizada, devido à preparação de todo ambiente. Reduziriam este  ímpeto e se concentrariam mais no que fazem e não  em relação a quantidade que fazem.

Sem falar naqueles que insistem em filmar tudo o que acontece em qualidade ruim e sonoridade duvidosa. Será que alguém assiste aqueles vídeos com péssimos áudios e zooms catastróficos? Tenho minhas duvidas. Mas, acredito que os mais bizarros tornam-se o carro chefe do youtube. Portanto quer ter o seu vídeo assistido muitas vezes? Vai a dica. Não se preocupe em filmar o evento principal, mas,  procure as cenas cômicas e torpes que lhe garanto será sucesso imediato.
 
Quanto aos fotógrafos de plantão. Por longo tempo andei com uma máquina sempre pronta a disparar. Uma simples e pequena Sony cyber-shot (dsc-p100) com controles de velocidade, ISO, distância, duas opções de obturador e algumas seleções de cenas. Lembro-me que tive a alegria de fazer boas fotos com a mesma. Não lembro-me de fotografar saltitando em meio a casamentos, batizados e outras celebrações. Mas, por meio da cotidiana observação do dia. Uma praça, uma criança, o pôr do sol, uma conversa descontraída acabava por render boas fotos. Um bom fotógrafo nunca corre para realizar seu serviço, fotografia é arte por isso é necessário paciência.

Não pense que aquele flagra fotográfico vai nascer a partir dos números de cliques dados, mas, da sua capacidade de enxergar o que clicar. A fotografia nasce em nossos olhos e não na qualidade da máquina ou número pixels. Por isso, as velhas e pré-históricas máquinas Kodak analógica produziam boas imagens. Acostume os olhos com objetos fixos e aos poucos avance para aqueles em movimentos e obstáculos.

Saiba terás sempre alguém a sua frente no desejo de uma boa imagem. O beijo da noiva não se repete, a mão que assina o contrato estará sempre em um ângulo desproporcional. Acostumem-se com os obstáculos evite empurrar as pessoas ao seu lado, você não é o fotógrafo ofícial do evento. Acaso o seja, é necessário estudar o local antes. Pois, os paparazis da ultima hora sempre chegarão para te atrapalhar. 

Um detalhe aos fotógrafos desavisados as máquinas digitais são dotadas de um sistema de contagem de fotos, ou seja, a cada clique a sua máquina tem uma foto a menos. Explico, o sistema interno da máquina irá fotografar x fotos sem problema, depois disso  haverá um desgaste do aparelho, que resulta em uma qualidade menor das imagens. Por isso pense duas vezes em sair disparando loucamente pelo mundo.
 
Por fim, curta os momentos ao qual será convidado. Saboreie a música, delicie-se com as pessoas presentes, contemple as cerimônias. Não perca a oportunidade de ver e ouvir detalhes que poucos irão notar. Saiba que grandes momentos da história da humanidade foram perpetuados pela intensidade de suas vivências, não por que foram fotografados e muito menos escritos. Por exemplo: os eventos da Sagrada Escritura foram vividos e narrados oralmente por seus protagonistas e coadjuvantes. Depois estes  fizeram questão de contar com a mais profunda riqueza de detalhes. Istó é,  retransmitindo de modo oral . Tempos posteriores a tecnologias e necessidades permitiu-nos escrevê-los e por fim retratá-los. Contados  por meio da imagem.
Não se torne aquela pessoa que tanto desejou ver pessoalmente o seu ídolo do cinema. E ao realizar o seu desejo, preocupou-se tanto com  fotografia a ser tirada  que não notou  o seu déficit capilar.

Ennis Aráujo

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O dom precioso da incerteza.

Desde o nascimento até a morte estaremos a a aprender. Aprendemos a andar, falar, comer, escutar, a ler e ensinar. De modo que, este aprendizado, a cada dia passa por novas etapas o que chamamos de aperfeiçoamento. Assim passamos a andar melhor, falar melhor,  ler melhor ou em outras línguas e em alguns momentos até aprendemos a desaprender algo já conhecido e dogmatizado.
Portanto nascemos em um mundo de certezas e objetividades que se encontra a nossa frente. Toda construção posterior em muitos casos serão realizadas por dois parâmetros por comparação e tentativa de erro e acerto. Na maioria das vezes este dois paradigmas servirão para a sustentabilidade de inúmeras “verdades”. Um castelo de afirmações dadas como reais, mas que nunca foram questionadas. Pode com certeza ser válido, porém, cumulado de incertezas.
Mas, como poderíamos entender o termo "Incerteza".. Algo incerto, não que dizer errado ou falso. Mas, algo que não tem  solidez suficiente para sustentar-se. A incerteza é a ponte para uma nova realidade e o degrau para uma nova compreensão, ou mais profunda ou a convicção de que não se avançou após tanto esforço. A incerteza deve nos alimenta a cada dia. Uma pergunta é a possibilidade. Como afirma Arquimedes “Dê-me um ponto de apoio, e moverei o mundo”. A dúvida em alguns casos revela-se muito mais perigosa que a mentira. Ao mesmo tempo em que se torna capaz de recriar a verdade. Mas entenda, a  dúvida é diferente de insegurança. Em muitos casos insegurança revela o medo e a incapacidade de assumir as conseqüências.
A incerteza sobre a nossa vida deve ser o motor que nos inspira. A capacidade de nos assumirmos mediante a  nossa existência e a não existência. Quanto a não existência Descartes, buscou responder a partir da "duvida metódica"[1], mas, em relação à existência a nossa limitada capacidade intelectual, acoplada a nossa fértil imaginação e alimentada pelos nossos anseios particulares termina por construir realidades deveras deturpadas. E somente e, novamente recorremos à genitora primordial da verdade a dúvida. 
Por tanto em um exercício fatídico e prazeroso reiniciamos a nossa aventura. Mas o que é o mundo? O que é a certeza? O que é o certo? Será que existe algo errado? Aprendemos a construir, a objetivar, a assimilar a dar sentido às coisas. Porém tememos destruir estas mesmas realidades que criamos. Torna-se difícil desmascarar o mundo que não criamos, mas, que insistimos em defender como verdade ou negá-lo como uma mentira que não inventei. Podemos até querer fugir, mas voltamos ao mesmo lugar “Só sei que nada sei” (Sócrates).


[1] Após a negação de todas as coisas Descartes afirma que é impossível negar o ser negador. Por tanto “Se duvido logo, existo”. Discurso do Método, Descartes, René. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Um celular disfarçado de Orelhão!


Alguns dias atrás, devido à avançada miopia, retornei ao oftalmologista para uma consulta necessária e habitual. Mas, de todos os males e medos possíveis de ver 11,5 graus elevar-se a12 graus de pura cegueira (E não vale gritar “DOZE! TRUCO, Ladrão"). Vivenciei uma situação deveras popular nos dias atuais, Algumas pessoas a falarem loucamente ao celular. Sem contar com aqueles sonoros e inimagináveis toques (Ai se eu te pego... e vários outros). Talvez estejam a pensar “já estive nesse mesmo consultório oftálmico”. Mas, acho que não seja mera coincidência, realmente é possível.

Era para ser uma simples consulta, porém, tornou-se uma experiência que ouso denominar Conflito-sócio–global vulgo “barraco”, desculpe o neologismo. Mas foi isso mesmo que aconteceu. Em trinta minutos de espera ouvi quatro diálogos dignos de uma comédia stand-up. O primeiro uma garota filha de pais separados que passaria o final de semana com o pai. O segundo de um jovem que havia perdido a lente de contato em uma viagem a Caldas Novas. O terceiro uma senhora empresária do ramo de confecções, mais especificamente cortinas e o último ao qual  denominaria como uma jovem secretária de si mesmo a anotar os seus recados. Não se preocupem os personagens são auto-explicativos

Sei que é falta de educação ouvir conversas alheias. Assim fui alertado em minha infância. Por sinal o telefone da casa ficava em lugares reservados aos quais as crianças não se aproximavam quando alguém estava a falar. Pois, conversa ao telefone era algo muito sério. Assuntos dignos que se resumiam em uma ordem pré-estabelecida: trabalho, saúde e parentes distantes. Além do fato de ser privilégio de poucos possuírem telefone em casa. De modo, que o filho mais novo era obrigado a chamar o vizinho a qualquer hora do dia e da noite. Pois, com certeza algo sério havia acontecido.

— Corre fulano!Vai chamar o sicrano que beltrano está a ligar. E é rápido!

Cansei de ouvir tal ordem. Mas, tudo bem os dias são outros. E o resultado disso em bom idioma lusitano “tele móvel” Pois, eis a experiência dos infernos em pleno séc. XXI.
Aproximava-se das 14h, quando uma adolescente nos surpreende com a música mais tocada dos últimos meses.
“Nossa! Assim você me mata. Ai seu te pego?” Após, contemplar algumas pessoas ensaiarem comicamente a coreografia do hit. Eis que começa tão conflituoso acordo de final de semana entre a simpática jovem, a insegura mãe e o pai que desejava curtir um bom final de semana com a filha.
— Pai não!.. No clube de novo... Na última vez o senhor ficou no bar com o pessoal do escritório... Depois o senhor estava cansado... Tínhamos combinado de ir ao cinema... Não! Na casa dela eu já disse que não vou...
—O que? Vocês acham que conseguem colocar tudo isso lá dentro...
Não estás a ficar louco. Neste exato momento entra freneticamente à senhora que citada no inicio da história. O motivo de tal barulho, a conclusão da venda de um jogo de cortinas que deveriam ser  instaladas naquele mesmo final de semana.
—Mas, eles disseram que mudam ainda este final de semana... E como eles vão dormir em um quatro que todos os vizinhos enxergam tudo... Ela disse que quer todas as cortinas... Não quero saber como? Se virem.
— Pai a minha mãe disse que o final de semana é com o Senhor e não com a Judite e as filhas delas. Gritava  menina bem ao centro da sala de espera.
Tan- tanta-tan..tanta.
Não é abertura do jornal nacional e sim um tom polifônico que descobri ser uma música do tal de David Gueta, que ressoava de um i-phone made in China. Pertencia a um jovem baladeiro que teve certa dificuldade em atendê-lo. Motivo da demora descobri assim que ele iniciou o seu monólogo ao lado da senhora das cortinas.
—Fala seu #$%&%$¨¨... Foi de mais aquele dia.... Sim era open-bar... Na moral quer saber?... Tu perdeu meu querido.. Só colírio meu irmão... Não fala sério... Ela te disse isso... Mentira... Fiquei com a aquela loirinha... Sim, mas os cara é vacilão... Eu disse pra ele não me empurrar... Foi... Pó! o que a mina ia faze?... Teve que ficar comigo. Poxa, foi &&&&...  Sim tó te falando...  No Kamikaze... Lá do Hot Park... Ai foi $%@@% Perdi minha lente fiquei cego e a mina teve que levar até o quarto. Pó cara, tu que o que? São 16 graus de miopia (possível votar as cegas). Não via um palmo a minha frente... Nada mesmo... Mais depois de trocentas ice e sei lá quantas cervas... Não vi mais nada. Sim tó aqui no oculista...
—Eu já disse! Elias Tem que colocar todas! Irritada gritava a empreendedora com o seu funcionário.
—Pai a minha mãe não vai deixar! Disse a menina.
—Me dá este telefone, deixa-me falar com o seu pai. Eu já disse. Ela não vai, para casa da Judite. E ponto final. Esbravejou a mãe com ciúmes da atual namorada do ex-marido.
—Como é que, você não pode vir me buscar? Mas, como vou fazer quando sair daqui? Disse o jovem baladeiro cego.
—Mário cinco horas, pode fazer o favor de buscar a Aline. Daqui, eu vou para academia. Ordenava a senhora ao ex-marido mediante a necessidade.
—Elias saindo daqui eu vou direto pra lá. Espero que esteja pronto. Completava a senhora das cortinas.
—Beleza, aquele *&¨&& vem me buscar.... Falou mano. Mas tu perdeu meu irmão...
Posso lhes afirmar esses foram trechos escutados de modo obrigatórios pelos presentes naquele ambiente e acredito também em outros circunvizinhos. Nem com o uso de toda habilidade de taquígrafo, conseguiria transcrever todos aqueles monólogos. Talvez diálogos, ou melhor, um Chat inconveniente e chato.

Acredito que  deve estar a pensar, qual foi o final disto? Posso lhes dizer que todos os presentes politicamente corretos não deram nenhum chilique. Muito menos intrometeram nas conversas. Os diálogos foram interrompidos por uma selvagem cena. Um ato explicito de falta de civilidade.
Um senhor que chegava atrasado e sem saber o que fazia ali, após aquele carnaval antecipado. Sem perceber a grande placa em letras garrafais contendo um símbolo universalmente conhecido.
PROIBIDO FUMAR!
De modo desrespeitoso aos presentes, sacou de seu bolso cigarro e isqueiro dando inicio a um incomodo incêndio. A cena foi rapidamente interrompida por duas pessoas que se sentiram sufocadas. Não estranhe, mas, a mãe da jovem de pais separados conseguiu listar em segundos todos os palavrões inimagináveis por mim até aquele dia. Os mesmo que foram anotados pelo jovem baladeiro e  fez questão postar no facebook e twitter em tempo real.
>Barraco sensacional no oculista!<
A outra pessoa a se manifestar foi a  conhecida empreendedora de cortinas. Que  chamou a jovem secretária com gritos estridentes.
—Escuta moça! Você não está a ver o que acontece aqui?

Fiquei muito feliz, pois, o meu anjo da guarda que não havia retornado do almoço  ate aquele momento deu o ar da graça e fui chamado para o atendimento.

Ao sair do consultório ainda foi possível ouvir o ultimo monólogo, Felizmente não foi possível identificar a pessoa, mas sei que era voz feminina. Ao qual logo percebi  que era a secretária de si mesmo. Suspeita confirmada pelo teor do breve diálogo.
—Oi minha linda, não posso atender agora, mas me diga o seu numero te ligo daqui a pouco. Estou esperando uma ligação... Ah. Desculpe esqueci...O número fica  gravado; Até... Beijo tchau.

Não sou fumante, muito menos gosto que fumem perto de mim. Mas, quem sabe não esteja na hora de acrescentarmos junto aquela já tão habitual e saudável placa contra o cigarro
“PROIBIDO O USO DE CELULAR NESTE AMBIENTE”.
Nascido com a alcunha de  personal-telephone o celular começa a roubar o titulo de um velho conhecido. Pois, apesar do Orelhão ainda ser o dono do título de telefone público, começo a rever meus conceitos.
— Alo! Pra quem? Dona Júlia. Sim vou mandar chamar...
— Menino sai de perto deste orelhão que a moça quer falar com o namorado.....

Ennis Araujo