quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ou serás ordinário, ou torna-se- á ordinário!..

Reza a lenda, que havia um império de nome Cotidiano, ao qual era governado pelo imperador Ordinário. Esse não era nem muito alto nem muito baixo; nem muito claro nem muito escuro, tinha os olhos pequenos, mas, de olhar profundo; uma voz suave, clara e marcante, as mãos longas de dedos finos que quando acena para s pessoas cortava os céus demonstrando segurança e fortaleza. Como todo imperador tinha seus momentos de tristeza e alegrias. Ordinário tinha alguns conflitos que o acompanhavam quase todos os dias.

Havia no Império Cotidiano um grande reservatório chamado “Dique dos Problemas”, que acumulava litros e litros de água. Às vezes, parte desta água transbordava, e para evitar a inundações no “Cotidiano” foi criada a Guarda Imperial, divida em 1ª e 2º guarda e a Guarda de Elite. A Primeira Guarda, cujo comandante, oriundo de uma família muito popular no Império, chamava-se Major Quase - Sempre. A Segunda Guarda, responsável pela fiscalização da Primeira, tinha como comandante o General Ex-Atidão, um homem ranzinza, porém coerente. Passava horas conferindo o trabalho da 1º guarda. A cada cinco anos as duas guardas tinham os seus desempenhos avaliados e seus comandantes, mantidos no posto ou promovido e em algumas ocasiões, exonerado.

Esta Avaliação era realizada pela Guarda de Elite, comandada pelo Marechal Futurus-Projetus, um homem que parecia uma enciclopédia, pois reunia em torno de si várias informações, pesquisas e soluções. Não só era respeitado como buscava respeitar todos os que encontravam pelo caminho. Em alguns momentos parecia um chato, viajando na maionese enquanto a vaca ia para o brejo. O império tinha coisas mais importantes a serem relatadas. Mas, como gostamos de fofocas voltemos à guarda.

Todos os anos O Teste da Guarda era um evento que movimentava todo o Império. Misturava-se a esperança de promoção dos Comandantes da Guarda ou a exoneração devida alguma falha. Penso que instintivamente oscilamos na alegria do sucesso dos nossos pares e o êxtase de ver os nossos desafetos se dar mal.

O teste daquele ano aconteceria após um acontecimento terrível no Império Cotidiano: O “Dique-Problema” se rompeu, várias pessoas morreram e outras perderam quase todas as suas posses.

Quando tal tragédia aconteceu, a Primeira guarda, sob o comando do major Quase - Sempre, fechou a represa com troncos de árvores, areia e muita pedra, o que de certa forma segurou a força da água, dando tempo para que a população fugisse e fosse resolvido o problema da vazão. Enquanto isso, o General Ex-Atidão, rapidamente correu ao outro extremo da represa e vendo que ali não havia casas resolveu abrir uma fenda. Com essa idéia, ele conseguiria reduzir a força das águas, que escoaria de modo equivalente, conservando o trabalho realizado pelo Major Quase - Sempre.

No meio da confusão, todos se perguntavam: Onde está o Marechal Futurus-Projetus? O que ele está a fazer naquele momento, tão difícil?

Eis então que chega o subcomandante Pode-Parar, da Guarda de Elite, informando que o Major Futurus-Projetus ordenara que todos se dirigissem para uma colina de nome Reflexão e ali contemplassem a imensidão do Dique-Problema. Que ao se romper provocou uma mudança tão grande na paisagem, Digna de se admirada.

A multidão então ficou espantada.

Olha aquilo!... Que lindo!... Meu Deus como é grande!... O Cotidiano nunca mais será o mesmo!...

E ali ficaram em contemplação até que o Marechal Futurus-Projetus deu uma ordem: - “Sei que tudo está muito bonito e admirável, mas, o Dique-Problema terá que ser resolvido”.

Mas toda população do Cotidiano, tratou de dizer:

- A culpa é da Primeira guarda se acaso tivessem se mantidos em seus postos não teríamos esse problema.

Outros eram enfáticos:

- Não temos formação e muito menos equipamentos para cuidar desse problema>

Enquanto outros desesperados gritavam:

-Vamos todos morrer! A minha casa! Minha plantação! Vai se esvair tudo em meio à água!

A força com que água avançava e destruía misturava-se em meio às queixas e lamurias da polução Cotidianense. Encontravam-se culpados e vitimas para tudo. E em meio aquela confusão todos não se apercebiam que morreriam culpados inocentes, conscientes, revolucionários, intelectuais, guardas e império.

Quando a água já havia avançado por quase todo Império. O Marechal Futurus- Projetus deu um grande grito e pediu que todos olhassem para o grande lago que havia formado abaixo deles. De modo que os rostos se formavam em maio ao espelho d água. E disse com voz bem firme:

-Eis o nosso Problema. E, em meio a risos todos respondiam:

-Acaso pensa que somos Cegos? Estamos a ver o nosso problema. Ao mesmo tempo em que olhamos ara vocês e esperamos a solução! Diziam em meio à ironia e raiva.

Insistindo na afirmação o Marechal Futurus-Projetus disse em toma mais sereno:

-eis o nosso problema. No mesmo momento a água que estava meio turva ficou transparente e todos puderam ver os seus rostos refletidos. De modo que aperceberam que o egoísmo interior de todos os lhes cegavam, a ponto que não viram ser capazes de dar fim a vazão da água. A falta de abertura e solidariedade explodia-se queixas e reclamações. Instaurando uma turbulência em toda população. Dirigir o olhar apara fora de si era a primeira solução. Não foi necessário ordem, comandos ou punições. O ver-se responsável por toda a realidade promoveu uma mudança importante em Cotidiano.

Naquele momento, todos começaram a trabalhar. A população reunida foi abrindo pequenos canais que contornavam todo o Dique-Problema, mantendo assim a represa em um nível que não causasse danos ao Império, desde que fosse mantida uma vigilância permanente sobre o nível da água. Os canais também eram vistos como abertura que cada um dava ao seu coração preocupando-se uns com outros. Não por que sou melhor e que o outro seja invalido. Mas, por que na vida de cotidiana de cada um surgem problemas, ora iguais ora diferentes, mas que podem se estendeu a todos de modo incontrolável.

No dia do teste, havia uma tensão geral entre os moradores de Cotidiano. Foi avisado de porta em porta que o teste daquele ano estava cancelado. Em seu lugar, haveria uma grande festa, pois, o Imperador Ordinário resolveu conceder a todas as Guardas uma medalha de Louvor e Bravura. Nessa data foi instituído o feriado comemorativo do “Dia em que Cotidiano contornou o Problema

No Reino do Cotidiano todos os que cumpriram suas tarefas entenderam que a solução para o problema está no conjunto das tarefas e das idéias. As tragédias nem sempre acontecem devido às falhas ou negligências humanas. O reconhecimento das dificuldades e a coragem de enfrentá-las, afora o desejo de localizar um culpado, fazem com que todos omitam seus esforços na busca de soluções.

Os problemas são normais e acontecem a curto, médio e longo prazo. Nem todos serão solucionados. Outros terão solução no prazo em que for possível.

Como naquela represa, os problemas aumentam ou reduzem sua força, a depender da dinâmica que desenvolvem. Sua solução pode envolver mais ou menos pessoas, mas a grande virtude está na organização e preparação para buscar as soluções adequadas. Para isso, precisamos agir com eficiência, determinação e paciência, virtudes que quase sempre estão presentes na vida dos homens que aos poucos se tornaram santos.

Por fim, no império do Cotidiano, o Ordinário se mantém como imperador: ou seremos ordinários ou nos tornaremos ordinários.

Fr. Ennis Cláudio Aráujo

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