Capitulo I
Encontros e Desencontros
Existem histórias de pessoas, cidades, ruas e praças famosas. Mas acredito que ainda
ninguém contou a história de um Banco de praça ranzinza, uma Lixeira Pop-Star
e de um Pardal metido a besta.
Mas acho que antes de contar está história é necessário conhecer o
lugar onde tudo aconteceu, ou melhor, que deveria acontecer. Não, nada disso! O
lugar onde tudo acontece de verdade “O Coração”!
Era uma vez uma praça, igual a todas as outras: retangular,
bancos, parquinho, banca de revista, pipoqueiro
e muitas crianças. Chamava-se “Praça da Vida” apesar de não haver nada
de tão especial, ocorreu que um dia
despencou sobre a cidade um grande temporal. Um verdadeiro dilúvio: derrubou
arvores, destruiu calçadas, arrastou a banca de revista.
A Praça da Vida ficou completamente destruída. As pessoas
caminhavam pelas ruas desesperadas.
Até que de repente um casal de namorados encontrou em meio aquela
tragédia algo que se tornaria um sinal de esperança. Escondido entre os galhos
das árvores arrancados pela força do vento e arrastados pela fúria das águas,
um pequeno ninho de pardal, ao qual abrigava um filhote que delicadamente
dormia protegido como que em uma espécie de milagre.
A mãe daquele jovem pássaro parecia ter previsto o que
aconteceria. A vigorosa mangueira tombou-se a força dos ventos, porém aquele
ninho resistiu intacto. E o seu morador, aguardava faminto pelo retorno de sua
mãe.
Em meio à escuridão e a dificuldade para alcançar o ninho entre às
folhas os dois jovens pediram ajuda das pessoas que por ali passavam. Algumas
aflitas demais para ajudar, mas mediante a bela visão do pequeno pardal em seu
ninho.
O Medo, o frio, a fome e a
escuridão da noite não impediram que dezenas de pessoas se movessem na corajosa
missão de retirar aquela frágil ave do lugar ao qual até o momento representava
a segurança máxima. Quando conseguiram ouve gritos de eufóricos de felicidade.
Aquele gesto provocou uma reação inesperada, a euforia vivida no
resgate do jovem pardal levou com que todos se desdobrassem na ajuda e amparo
dos que estavam padecer em outros lugares mediante a chuva.
Toda aquela cena foi fotografada por repórteres que estavam no
local. E no outro dia ganhou as paginas dos jornais. Porém, restou uma duvida .
O que ocorreu com aquele pardal?
Após o resgate, o casal de namorados levou o pequeno pássaro para
um ninho que pertecenu a outro passáro e acompanharam todo o desenvolver da
pequena ave. Até que um dia o mesmo vôo
para junto dos seus.
Aquela história ficou gravada em uma placa de homenagem na Praça
da vida, que devido à tragédia passou por uma grande reforma. Por dias a
reconstrução seguiu. Um tronco de arvore servia como banco para descanso dos
operários que trabalharam interrupetamente. Parte do lixo foi enterrado no
centro da praça, como um gesto simbólico. A vida brotaria novamente. Uma cena curiosa era
notada por todos que ali trabalharam.Um
passáro desolado contemplava tudo que acontecia com um olhar tristonho.
A reforma da “Praça da Vida” foi concluída. E em homenagem aos
namorados a praça ganhou um formato de
coração. Por causa disto, outras coisas acabaram por acontecer. Inclusive o
fato de se tornar um rua sem saída que levava com que todos circulassem por
todo o “Coração”.
—Meu amigo pode me informar onde fica a “Praça da Vida? Perguntava
o taxista.
—Lá no Coração. Respondia o jovem.
—Onde fica a escola “Primeiros Passos”? Queria saber o homem que
dirigia o ônibus escolar.
—Olha você segue está rua então o senhor vai ver um coração. Fica
ali. Respondia ao guarda.
Assim a Praça da Vida passou a ser conhecida apenas por “Coração”.
Como qualquer outra praça “Coração” também tinha seus moradores.
Que neste caso não eram híppies, mendigos, ambulantes, cachorros sarnentos,
corujas buraqueiras e muito menos o “bicho-papão”.
Stress e Clean eram considerados os primeiro moradores daquele
lugar. Gabavam-se de saber o nome da
primeira criança a cair da velha mangueira e a menina que ganhou o
primeiro botão de rosa.
Stress era um banco de praça, feito em ferro e madeira. Possuía um temperamento explosivo.
Dizia de si mesmo.
—Antes de pensarem “O Coração” eu já estava aqui, nos primeiros
anos na forma tosca de um tronco de árvore. Já naquela epoca eu era bastante
útil, pois, servia como assento aos cansados e famintos trabalhadores. Mas,
hoje sou uma obra prima. Um planejado banco de praça.
E após tilintar os seus parafusos afirmava.
—Sou praticamente uma relíquia, na cidade não existe um banco de
praça mais velho do que eu. Sou exclusivo, por isso exijo cuidado comigo, não
gosto que pisem em meu assento. Que bêbados venha dormir sobre mim e muito
menos que os alunos escrevam sobre o meu encosto.
O segundo morador, ou melhor, moradora, chamava-se Clean uma
amável e charmosa Lixeira que ostentava o curioso formato de coração.
— Eu brotei do chão como as árvores. Na minha infância era apenas um
buraquinho e recolhi em meu interior parte da triste sujeira e destuição deixada
pela chuva. Em minha eficiência fui promovida a lixeira modelo. Devido a tão
inusitado designer a lixeira tornou-se um atração especial.
—Nossa que linda! Uma lixeira em forma de coração! Amei este
detalhe rosa é tão romântico! Super fashion! Os comentários eram os mais
diversos.
As pessoas pousavam por
horas ao lado daquela que era a sensação da praça. Os flashes eram
constantes. Principalmente nos finais de
semana.
Clean por sinal não esconde a sua vaidade.
—Sou a pessoa mais conhecida desta cidade. Já tirei fotos com
japoneses, alemães, russos, americanos, italianos, brasileiros. Tenho foto com
a primeira dama. A filha daquele cantor sertanejo famoso. Sem falar que a praça
em minha homenagem ganhou este formato.
Apesar de não terem
residência permanente a cada ano Coração recebia diversas espécies de aves que
revezavam a sua estadia na “Praça da Vida”. Pombos, João de barro, pica-pau,
sábias, canários, andorinhas e os inúmeros pardais. Estes formavam curiosas
imagens ao se lançarem em revoadas ao sobrevoarem a praça. Mas desta vez as
coisas foram um pouco diferente, O grupo era guiado por um pardal muito
diferente.
— Acho que você deve
assumir a frente do grupo. Disse o pardal que estava a organizar o grupo de
migração. O seu nome era Cheff, usava poucas palavras conhecido por seu modo
prático. Era responsabel por preparar os mais jovens no exercicio de
conduzir os bandos a migração.
—Mas, eu já disse que nunca fiz isso. Disse o pardal em negativa a
ordem de Cheff. Este pardal chamava-se
Lipe. Havia entrado no bando a pouco tempo. Mas logo tornou-se conhecido pelo
seu tamanho e sua cor acinzentada.
—Estou a lhe esperar. Anda logo rapaz! Cheff não se intimidou com o
corpulento pardal prateado.
—Isso é loucura! Gritou Lipe ao perceber que aquele pássaro não o
deixaria em paz.
Enquanto os demais lhe olhavam com ar de reprovação. Enraivecido tomou do bando que seguia na
forma de um grande V, o modo seguro de conduziar a migração dos passaros.
Lipe nunca havia guiado um grupo antes, mas parecia aprender
rápido tudo que lhe ensinava.
—Isso mesmo, deixe o grupo sempre junto! Observe o ritmo dos
outros! Isso mesmo rapaz você parece que nasceu para isso.
Em poucos minutos Cheff estava
a elogiar, o estranho e folgado pardal prateado.
—Assim que avistar um lugar seguro prepare-se para o pousar.
Avisou Cheff à Lipe que conduzia o grupo.
—Acho que pode ser naquelas arvores. Disse Lipe ao avistar algumas
frondosas mangueiras.
Mas antes, que se concluísse a manobra. Cheff começou a gritar desesperado.
—Para cima! Aquile é o
reflexo da vidraça! Você que matar a todos!
Lipe estava tão empolgado que não deu ouvido ao experiente pardal,
acostumado as surpresas e desáfio do ar.
— Você está maluco Olha lá as arvores. Os predios estão do outro
lado. Insistia Lipe.
—Sim as arvores estão lá, seu pássaro maluco. Mas, do outro lado
aquilo é apenas reflexo. Para chegar à praça será necessário passar por entre
eles. Alguns pardais não conseguirão fazer tão arriscada manobra.
Cheff tentou por diversas vezes alterar a rota do grupo. Mas não
havia outro modo. Lipe conduzia o grupo, convencido que estava a fazer a coisa
certa.
—Venham vocês! Gritou Cheff a dois pardais de cor escura
—Derrubem este pardal kamikaze! Antes que ele mate a todos nós.
—O que isso meu Deus?! Lipe foi atropelado pelos dois pardais que
se lançaram sobre ele.
—Vocês me pagam! Lipe avançou como um louco, para cima dos pardais. Em meio a sopapos e
bicadas o pardal prateado foi imobilizado.
—Quando eu autorizar vocês podem soltar este maluco! Cheff em uma
ação muito rápida tomou a condução do bando. Enquanto reduzia a velocidade
conseguiu dividir o grupo de pardais o que e permitiu que não ocorrese uma tragédia.
Porém Lipe não teve a mesma sorte.
—Ploft! Tum, Tum! Ai! Ai, Uff!
Uma seqüência de barulhos anunciava que Lipe havia se chocado com as
vidraças. Quando foi libertado pelos pardais já era tade demais.
—Será que já cheguei ao céu dos pardais? Perguntava-se
Queixava-se o pardal sem esperança de estar vivo.
— Se cheguei. Sempre imaginei um lugar fofinho com músicas por
todos os lados.
Mas aquela realidade não lhe parecia muito com o céu.
—Acho eu não fui muito caridoso para merecer o céu dos pardais.
Mas isso aqui está frio demais para ser onde não gostaria de estar.
Aos poucos percebeu que estava em uma pequena sacada sendo acolhido de
modo inusitado.
—Ah meus Deus! Nada é tão ruim que não possa piorar. Socorro! O
pássaro saiu cambaleante a fugir de um gato amarelo com cara de “obrigado Papai
do céu pelo apetitoso almoço” . Só restava o passaro sair dali imediatamente.
Enquanto ganhava altura não percebeu que a varanda era coberta e
deu uma ultima cabeça no teto.
—Ai! De novo! Já sei quando casar sara! Aos poucos notou que não estava naquele
momento dividido em mil pedaços na boca daquele gato asqueroso.
Deste modo a vida acontecia em sua mais bela dimensão. A
capacidade de se renovar. E para todos os moradores esta renovação se realizou o dia em que “Praça da Vida” deu os seus “Primeiros
Passos” em direção ao “Coração”.
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