Alguns dias
atrás, devido à avançada miopia, retornei ao oftalmologista para uma consulta
necessária e habitual. Mas, de todos os males e medos possíveis de ver 11,5
graus elevar-se a12 graus de pura cegueira (E não vale gritar “DOZE! TRUCO,
Ladrão"). Vivenciei uma situação deveras popular nos dias atuais, Algumas
pessoas a falarem loucamente ao celular. Sem contar com aqueles sonoros e inimagináveis
toques (Ai se eu te pego... e vários
outros). Talvez estejam a pensar “já estive nesse mesmo consultório oftálmico”.
Mas, acho que não seja mera coincidência, realmente é possível.
Era para ser
uma simples consulta, porém, tornou-se uma experiência que ouso denominar Conflito-sócio–global
vulgo “barraco”, desculpe o neologismo. Mas foi isso mesmo que aconteceu. Em
trinta minutos de espera ouvi quatro diálogos dignos de uma comédia stand-up. O
primeiro uma garota filha de pais separados que passaria o final de semana com
o pai. O segundo de um jovem que havia perdido a lente de contato em uma viagem
a Caldas Novas. O terceiro uma senhora empresária do ramo de confecções, mais
especificamente cortinas e o último ao qual
denominaria como uma jovem secretária de si mesmo a anotar os seus
recados. Não se preocupem os personagens são auto-explicativos
Sei que é
falta de educação ouvir conversas alheias. Assim fui alertado em minha
infância. Por sinal o telefone da casa ficava em lugares reservados aos quais as
crianças não se aproximavam quando alguém estava a falar. Pois, conversa ao
telefone era algo muito sério. Assuntos dignos que se resumiam em uma ordem
pré-estabelecida: trabalho, saúde e parentes distantes. Além do fato de ser privilégio de poucos possuírem telefone em casa. De modo, que o filho mais novo era
obrigado a chamar o vizinho a qualquer hora do dia e da noite. Pois, com
certeza algo sério havia acontecido.
— Corre
fulano!Vai chamar o sicrano que beltrano está a ligar. E é rápido!
Cansei de
ouvir tal ordem. Mas, tudo bem os dias são outros. E o resultado disso em bom idioma
lusitano “tele móvel” Pois, eis a experiência dos infernos em pleno séc. XXI.
Aproximava-se
das 14h, quando uma adolescente nos surpreende com a música mais tocada dos
últimos meses.
“Nossa! Assim
você me mata. Ai seu te pego?” Após, contemplar algumas pessoas ensaiarem comicamente
a coreografia do hit. Eis que começa tão conflituoso acordo de final de semana
entre a simpática jovem, a insegura mãe e o pai que desejava curtir um bom
final de semana com a filha.
— Pai não!..
No clube de novo... Na última vez o senhor ficou no bar com o pessoal do
escritório... Depois o senhor estava cansado... Tínhamos combinado de ir ao
cinema... Não! Na casa dela eu já disse que não vou...
—O que? Vocês
acham que conseguem colocar tudo isso lá dentro...
Não estás a ficar
louco. Neste exato momento entra freneticamente à senhora que citada no inicio
da história. O motivo de tal barulho, a conclusão da venda de um jogo de cortinas
que deveriam ser instaladas naquele mesmo
final de semana.
—Mas, eles
disseram que mudam ainda este final de semana... E como eles vão dormir em um
quatro que todos os vizinhos enxergam tudo... Ela disse que quer todas as
cortinas... Não quero saber como? Se virem.
— Pai a minha
mãe disse que o final de semana é com o Senhor e não com a Judite e as filhas
delas. Gritava menina bem ao centro da
sala de espera.
Tan-
tanta-tan..tanta.
Não é abertura
do jornal nacional e sim um tom polifônico que descobri ser uma música do tal
de David Gueta, que ressoava de um i-phone made in China. Pertencia a um jovem
baladeiro que teve certa dificuldade em atendê-lo. Motivo
da demora descobri assim que ele iniciou o seu monólogo ao lado da senhora das
cortinas.
—Fala seu
#$%&%$¨¨... Foi de mais aquele dia.... Sim era open-bar... Na moral quer
saber?... Tu perdeu meu querido.. Só colírio meu irmão... Não fala sério... Ela
te disse isso... Mentira... Fiquei com a aquela loirinha... Sim, mas os cara é
vacilão... Eu disse pra ele não me empurrar... Foi... Pó! o que a mina ia
faze?... Teve que ficar comigo. Poxa, foi &&&&... Sim tó te falando... No Kamikaze... Lá do Hot Park... Ai foi $%@@%
Perdi minha lente fiquei cego e a mina teve que levar até o quarto. Pó cara, tu
que o que? São 16 graus de miopia (possível votar as cegas). Não via um palmo a
minha frente... Nada mesmo... Mais depois de trocentas ice e sei lá quantas
cervas... Não vi mais nada. Sim tó aqui no oculista...
—Eu já disse!
Elias Tem que colocar todas! Irritada gritava a empreendedora com o seu
funcionário.
—Pai a minha
mãe não vai deixar! Disse a menina.
—Me dá este
telefone, deixa-me falar com o seu pai. Eu já disse. Ela não vai, para casa da
Judite. E ponto final. Esbravejou a mãe com ciúmes da atual namorada do
ex-marido.
—Como é que,
você não pode vir me buscar? Mas, como vou fazer quando sair daqui? Disse o
jovem baladeiro cego.
—Mário cinco
horas, pode fazer o favor de buscar a Aline. Daqui, eu vou para academia.
Ordenava a senhora ao ex-marido mediante a necessidade.
—Elias saindo
daqui eu vou direto pra lá. Espero que esteja pronto. Completava a senhora das
cortinas.
—Beleza,
aquele *&¨&& vem me buscar.... Falou mano. Mas tu perdeu meu irmão...
Posso lhes
afirmar esses foram trechos escutados de modo obrigatórios pelos presentes
naquele ambiente e acredito também em outros circunvizinhos. Nem com o uso de
toda habilidade de taquígrafo, conseguiria transcrever todos aqueles monólogos.
Talvez diálogos, ou melhor, um Chat inconveniente e chato.
Acredito
que deve estar a pensar, qual foi o
final disto? Posso lhes dizer que todos os presentes politicamente corretos não
deram nenhum chilique. Muito menos intrometeram nas conversas. Os diálogos foram
interrompidos por uma selvagem cena. Um ato explicito de falta de civilidade.
Um senhor que
chegava atrasado e sem saber o que fazia ali, após aquele carnaval antecipado.
Sem perceber a grande placa em letras garrafais contendo um símbolo
universalmente conhecido.
PROIBIDO
FUMAR!
De modo desrespeitoso
aos presentes, sacou de seu bolso cigarro e isqueiro dando inicio a um incomodo
incêndio. A cena foi rapidamente interrompida por duas pessoas que se sentiram
sufocadas. Não estranhe, mas, a mãe da jovem de pais separados conseguiu listar em
segundos todos os palavrões inimagináveis por mim até aquele dia. Os mesmo que
foram anotados pelo jovem baladeiro e fez
questão postar no facebook e twitter em tempo real.
>Barraco
sensacional no oculista!<
A outra pessoa
a se manifestar foi a conhecida
empreendedora de cortinas. Que chamou a jovem secretária com
gritos estridentes.
—Escuta moça! Você
não está a ver o que acontece aqui?
Fiquei muito
feliz, pois, o meu anjo da guarda que não havia retornado do almoço ate aquele momento deu o ar da graça e fui
chamado para o atendimento.
Ao sair do
consultório ainda foi possível ouvir o ultimo monólogo, Felizmente não foi
possível identificar a pessoa, mas sei que era voz feminina. Ao qual logo
percebi que era a secretária de si
mesmo. Suspeita confirmada pelo teor do breve diálogo.
—Oi minha
linda, não posso atender agora, mas me diga o seu numero te ligo daqui a pouco.
Estou esperando uma ligação... Ah. Desculpe esqueci...O número fica gravado; Até... Beijo tchau.
Não sou fumante, muito menos gosto que fumem perto de mim. Mas, quem sabe não esteja na hora de acrescentarmos junto aquela já tão habitual e saudável placa contra o cigarro
“PROIBIDO O
USO DE CELULAR NESTE AMBIENTE”.
Nascido com a
alcunha de personal-telephone o celular
começa a roubar o titulo de um velho conhecido. Pois, apesar do Orelhão ainda
ser o dono do título de telefone público, começo a rever meus conceitos.
— Alo! Pra
quem? Dona Júlia. Sim vou mandar chamar...
— Menino sai
de perto deste orelhão que a moça quer falar com o namorado.....
Ennis Araujo
Ahhhh! Celular tem lá suas vantagens.
ResponderExcluirDá pra ver as horas nele, usar como despertador, dá pra tirar fotos, dá pra fingir que é uma arma durante um assalto, dá pra tacar na cabeça do namorado quando ele irrita a gente... enfim, mil e uma utilidades. Não olhe apenas o lado ruim, rsrsrs!
Frei, muito fera!! Eu fiquei pensando...Tudo isso num consultório? KKKK Ei, o meu eu uso como gravador também, para registrar as minhas músicas.rsrsrsrsr Um abração!! Saudades! NB
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